Profecias de Bandarra
I IX
Como nas Alcaçarias Também sei algo brunir
Andam os couros as voltas, Quaisquer laços de lavores,
Assim vejo grandes revoltas Bacharéis, procuradores
Agora nas Cleresias. Ai vai o perseguir.
II X
Porque usam de Simonias E quando vão pedir
E adoram os dinheiros, Conselho os demandões,
As Igrejas, pardieiros, Como lhes falta os tostões,
Os corporais por mais vias Não os querem mais ouvir.
III XI
O sumagre com a cal Há-de ser bem assentada
Faz os couros ser mociços, A obra dos chapins largos,
Ah! quantos há maus noviços A linhagem dos fidalgos
Nessa Ordem Episcopal. Por dinheiro é trocada.
IV XII
porque vai de mal a mal Vejo tanta misturada
Sem ordem nem regimento, Sem haver mestre que mande;
Quebrantam o mandamento, Como quereis, que a cura ande,
Cumprem o mais venial. Se a ferida esta danada ?
V XIII
Também sou oficial tenho uma gentil sovela,
Sei um pouco de cortiça Com que coso mui direito:
Não vejo fazer justiça Se a mulher não desse jeito,
A todo o mundo em geral Não olhariam para ela.
VI XIV
Que agora a cada qual Em que seja uma donzela
Sem letras fazem Doutores, Nobre casta e oradora
Vejo muitos julgadores, Ela e a causadora,
Que não sabem bem, nem mal. Do que acontecer por ela.
VII XV
Borzeguins par calçar Sei também mui bem coser
Hão-de ser de cordovães. Uns borzeguins Cordoveses
Notarios, Tabaliães Todos os trajos franceses
Tenho o tento em apanhar. Quem quer os quer já trazer.
VIII XVI
Vê-los-eis a porfiar Os que não têm que comer
Sobre um pobre ceitil, fazem trajos mui prezados,
E rapar-vos por um mil ficam pobres lazarados
Se vo-los podem rapar. por outros enriquecer.
(Continua, sonho primeiro)